Dirigido por Sam Mendes, 1917 é uma obra-prima do cinema que redefine o gênero de filmes de guerra com sua abordagem técnica inovadora, atuações intensas e um impacto emocional profundo.
O filme, lançado em 2019, conta a história de dois soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial, em uma missão quase impossível de entregar uma mensagem crucial para salvar centenas de vidas. Com uma execução técnica impecável e uma narrativa emocionante.
10/10
Sam Mendes entrega uma das direções mais impressionantes e ambiciosas dos últimos anos em 1917. O grande destaque do filme é sua execução em "plano-sequência", uma técnica que dá a impressão de que o filme foi filmado em uma única tomada contínua. Essa escolha não apenas eleva o nível técnico da produção, mas também intensifica a imersão do público na história, colocando-o lado a lado com os protagonistas em sua perigosa jornada. A tensão é constante, e Mendes consegue equilibrar momentos de ação e suspense com cenas mais introspectivas, mantendo o público conectado emocionalmente.
O controle de Mendes sobre o ritmo é impecável. Desde as primeiras cenas, o espectador é imediatamente transportado para as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, sem nunca perder a sensação de urgência e perigo. O uso dessa técnica em mãos menos habilidosas poderia parecer uma artimanha, mas Mendes a utiliza para amplificar o impacto emocional da história e a brutalidade do conflito. A sensação de estar "preso" no campo de batalha com os personagens é visceral e angustiante, mas é o que torna o filme tão poderoso.
O roteiro de 1917, escrito por Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns, é relativamente simples em termos de narrativa, mas sua simplicidade é o que torna a trama tão eficaz. A missão dos dois soldados, Schofield (de George MacKay) e Blake (de Dean-Charles Chapman), é clara: atravessar o território inimigo para entregar uma mensagem que pode salvar 1.600 homens de uma emboscada. O roteiro não se perde em subtramas desnecessárias; ao invés disso, foca em construir a tensão a cada passo que os personagens dão em direção ao desconhecido.
Essa abordagem minimalista permite que a história se desenrole de forma fluida e direta, permitindo que o público se concentre totalmente nos personagens e na jornada que eles enfrentam. A escrita também captura o horror e o caos da guerra de maneira autêntica, com diálogos curtos e realistas, que ressaltam a camaradagem e o medo enfrentado pelos soldados.
George MacKay carrega o filme de maneira impressionante em seu papel como Schofield. Ele entrega uma performance comovente, transmitindo tanto a força quanto a vulnerabilidade de um soldado jovem e exausto, que luta não só pela vida, mas pela sobrevivência emocional em meio à brutalidade da guerra. O arco de seu personagem, desde a relutância inicial até a determinação absoluta, é convincente e emocionalmente envolvente. Através de expressões sutis e linguagem corporal, MacKay consegue transmitir o impacto psicológico da guerra, criando um protagonista com o qual o público se importa profundamente.
Dean-Charles Chapman também impressiona como Blake, trazendo ao personagem uma leveza e inocência que tornam sua missão ainda mais tocante. O vínculo entre Schofield e Blake é crucial para o filme, e os dois atores compartilham uma química que torna a jornada emocional ainda mais intensa.
Além dos protagonistas, o filme conta com participações pontuais de atores renomados, como Colin Firth, Benedict Cumberbatch e Mark Strong, que contribuem para a atmosfera realista do filme, mas sem jamais ofuscar o foco na missão central.
A cinematografia de Roger Deakins em 1917 é, sem dúvida, um dos maiores triunfos do filme. Seu trabalho com iluminação natural e sua habilidade em capturar longos planos contínuos são o que fazem 1917 ser uma experiência cinematográfica tão imersiva. Cada cena é cuidadosamente composta, com movimentos de câmera fluidos e dinâmicos que seguem os personagens em meio ao caos da guerra. A câmera se move como uma sombra silenciosa, acompanhando de perto cada respiração, cada passo, cada momento de incerteza.
Deakins também consegue contrastar a beleza do cenário com a devastação da guerra. Em um momento, vemos a tranquilidade de um campo verdejante, e, no próximo, a devastação total das trincheiras e da terra de ninguém. A sequência noturna em uma cidade em chamas é visualmente deslumbrante, ao mesmo tempo em que intensifica a tensão e o isolamento do protagonista. Deakins merecidamente ganhou o Oscar de Melhor Fotografia por seu trabalho inovador e espetacular neste filme.
A trilha sonora de Thomas Newman complementa perfeitamente o ritmo do filme, intensificando a tensão e o drama sem jamais ser intrusiva. As notas sutis, que aumentam gradualmente à medida que os personagens se aproximam de situações perigosas, ajudam a manter o público em estado de alerta constante. A música se entrelaça com os sons do ambiente de guerra – tiros, explosões e gritos distantes para criar uma imersão sonora completa.
O design de som em 1917 é igualmente impecável. Desde o som abafado das explosões nas trincheiras até o silêncio opressor de um campo de batalha deserto, o filme utiliza o som como uma ferramenta narrativa crucial. Cada som aumenta a tensão e o realismo da experiência de guerra.
1917 é mais do que um simples filme de guerra; é um feito cinematográfico que combina direção impecável, performances emocionantes e uma técnica visual inovadora para criar uma experiência única e profundamente impactante. Sam Mendes, Roger Deakins e o elenco entregam um filme que não só impressiona tecnicamente, mas também ressoa emocionalmente, deixando o espectador refletindo muito além dos créditos finais.
Com seu uso magistral de planos-sequência, cinematografia brilhante, atuações poderosas e um roteiro envolvente, 1917 se estabelece como um dos maiores filmes de guerra já feitos. Ele não só captura a brutalidade do conflito, mas também a coragem e o sacrifício dos indivíduos que o enfrentam.