Cidade de Deus - O filme que influenciou a criminalidade em Angola

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Lançado em 2002, Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, tornou-se um dos filmes mais impactantes e influentes do cinema brasileiro, ao retratar a violência, a criminalidade e as dificuldades enfrentadas por jovens nas favelas do Rio de Janeiro.


Filme Brasileiro em Angola
Cidade de Deus


A narrativa crua e realista do filme conquistou reconhecimento mundial inclusive Angola, porém é exatamente país como Angola, que ele gerou polêmicas devido à sua representação direta e brutal do crime, principalmente entre os jovens. Na década de 2000, a exibição e o consumo desse filme em Angola levantaram preocupações quanto à sua possível influência no aumento da criminalidade juvenil.


Um Retrato Realista que Cativou os Jovens


Uma das razões pelas quais Cidade de Deus impactou tão fortemente os jovens angolanos foi a sua capacidade de espelhar realidades semelhantes às suas. A narrativa do filme, centrada na ascensão de jovens ao mundo do crime nas favelas, dialogava com a situação socioeconômica de muitas regiões urbanas em Angola. O país, ainda em processo de recuperação após décadas de guerra civil encerada em 2002, enfrentava altos índices de pobreza, desigualdade e violência urbana, especialmente nas periferias das grandes cidades, como Cacuaco, Cazenga e Sambizanga, municípios da capital do país, Luanda.


Os jovens angolanos, expostos a um ambiente de falta de oportunidades e de frustração, identificavam-se com os personagens de Cidade de Deus. O filme mostrava como a criminalidade era uma rota de ascensão social rápida, ainda que trágica. Para muitos, essa imagem de poder e respeito parecia uma alternativa viável, mesmo que perigosa. O filme, assim, deixou de ser apenas uma obra de ficção e passou a ser visto por alguns como uma espécie de manual de sobrevivência no contexto de suas próprias vidas.


O Temor dos Pais e a Proibição Doméstica


Dada a força com que Cidade de Deus impactou os jovens, muitos pais angolanos começaram a proibir sua exibição em casa. Havia uma preocupação crescente de que o filme, ao retratar a violência como parte do cotidiano e ao glorificar, de certa forma, as figuras criminosas, pudesse influenciar seus filhos a adotarem comportamentos delinquentes. O receio era de que os jovens se espelhassem nos personagens como Zé Pequeno e Bené, que, embora condenados à violência, eram retratados como figuras fortes e influentes em seus contextos.


A narrativa do filme, com sua linguagem visual intensa e cenas de brutalidade explícita, gerava discussões sobre os limites entre a representação artística da realidade e a potencial incitação ao crime. Em algumas famílias angolanas, o filme tornou-se um símbolo de tudo o que os pais temiam: que seus filhos, sem perspectivas de futuro, fossem seduzidos pela ideia de que a criminalidade poderia ser uma forma de obter respeito e poder.


A proibição doméstica de Cidade de Deus não foi suficiente para impedir que o filme se tornasse um fenômeno cultural entre os jovens angolanos. Muitos assistiam ao filme nas casas de amigos ou obtinham cópias piratas, aumentando ainda mais a disseminação de suas ideias. À medida que o filme se popularizou, as preocupações sobre sua influência na criminalidade juvenil aumentaram.


O filme passou a ser visto como um espelho das realidades angolanas e, para alguns jovens, como uma validação de seus próprios envolvimentos no crime. O aumento da criminalidade urbana em Angola, especialmente em áreas de alta vulnerabilidade social, parecia ecoar os temas do filme, criando um ciclo de identificação e reprodução de comportamentos. Alguns especialistas sugerem que Cidade de Deus reforçou a ideia de que, em um contexto de pobreza e exclusão, o crime poderia ser a única forma de ascender socialmente ou ganhar respeito em um ambiente dominado pela violência.


A Responsabilidade da Arte


A relação entre arte e realidade é sempre complexa, e Cidade de Deus exemplifica isso de maneira contundente. Embora o filme tenha sido criado com a intenção de denunciar a violência e a falta de oportunidades nas favelas brasileiras, ele acabou sendo interpretado de maneira diversa em diferentes contextos. Em Angola, onde a criminalidade juvenil já era uma preocupação crescente, o filme foi visto por muitos como um fator que poderia agravar a situação.


A questão que surge é sobre a responsabilidade dos cineastas e produtores de conteúdo em relação ao impacto de suas obras. Cidade de Deus nunca foi feito com a intenção de glorificar o crime, mas sim de expor as realidades brutais enfrentadas por jovens marginalizados. No entanto, seu consumo em ambientes de alta vulnerabilidade, como Angola, levantou a questão de até que ponto a arte pode influenciar comportamentos violentos, especialmente entre aqueles que se identificam diretamente com os personagens retratados.


Cidade de Deus deixou uma marca indelével na cultura global e, em Angola, seu impacto foi sentido de maneira particular. Embora não seja possível atribuir diretamente ao filme o aumento da criminalidade no país, ele certamente contribuiu para um debate importante sobre a influência da mídia e da arte nas sociedades em crise.


A proibição de sua exibição em algumas casas angolanas refletia o medo de que os jovens pudessem ver na narrativa do filme uma justificativa ou uma inspiração para o envolvimento com o crime. No entanto, essa proibição também destacava a necessidade de uma abordagem mais ampla para lidar com as questões sociais e econômicas que impulsionam os jovens para a criminalidade, seja em Angola ou em qualquer outra parte do mundo.

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