Em 007: Spectre (2015), dirigido por Sam Mendes, é o 24º filme da franquia e traz um equilíbrio entre tradição e inovação, homenageando a história de James Bond enquanto avança na narrativa pessoal do agente.
O filme é repleto de ação, mistério, e toques de nostalgia que o ligam aos clássicos de Bond, tudo isso acompanhado de um visual estonteante e atuações memoráveis.
8.2/10
Após o sucesso de Skyfall, Sam Mendes retorna para dirigir Spectre e mantém a sofisticação visual que se tornou uma marca registrada em sua abordagem de Bond. Desde a espetacular sequência de abertura no México durante o Dia dos Mortos, com uma impressionante tomada contínua, até as paisagens deslumbrantes de Roma e Áustria, Mendes eleva o filme com sua direção estilizada e visualmente impactante. O filme equilibra cenas de ação de tirar o fôlego com momentos mais calmos e introspectivos, que refletem o estado emocional de Bond.
Mendes sabe como capturar o suspense e a tensão, mas também faz questão de manter uma aura clássica que remete aos antigos filmes de James Bond. A combinação de cenários imponentes, perseguições emocionantes e confrontos diretos fazem de Spectre uma experiência visual única. Ele também traz um certo ar de mistério e escuridão, o que combina perfeitamente com o enredo mais sombrio e pessoal da história.
O roteiro de Spectre, escrito por John Logan, Neal Purvis, Robert Wade e Jez Butterworth, tem a difícil tarefa de amarrar os eventos dos filmes anteriores, especialmente Cassino Royale, Quantum of Solace e Skyfall. Ele revela que os vilões de todos esses filmes estão conectados a uma organização maior, a Spectre, liderada por Ernst Stavro Blofeld (de Christoph Waltz). Essa revelação dá uma nova perspectiva sobre os desafios que Bond enfrentou ao longo dos anos e oferece um desfecho para algumas pontas soltas da narrativa.
O filme também oferece uma boa mistura de temas clássicos de espionagem com conflitos pessoais. Bond, desta vez, está em uma jornada pessoal para entender seu passado e as forças que controlaram sua vida como agente. Ao descobrir que Blofeld tem uma ligação direta com seu passado, Bond é forçado a confrontar tanto sua identidade como espião quanto seu lado mais humano. Esse elemento pessoal, embora talvez não seja tão profundo quanto Skyfall, adiciona uma camada emocional importante à história.
Embora alguns críticos tenham apontado que o roteiro poderia ser mais complexo, ele faz um bom trabalho ao balancear a ação frenética e a intriga, mantendo o público envolvido. A nostalgia é um componente essencial do filme, e Spectre utiliza referências a filmes anteriores de maneira sutil e eficaz, agradando tanto os novos fãs quanto os mais antigos.
Daniel Craig mais uma vez entrega uma performance sólida como James Bond. Em Spectre, ele encontra um equilíbrio entre a brutalidade física que marcou suas primeiras aparições no papel e a sofisticação clássica do personagem. Craig parece mais confortável do que nunca em sua pele como Bond, e sua atuação reflete um agente que finalmente começa a se reconciliar com seu passado e suas escolhas.
Craig também adiciona uma leveza ao personagem que não era tão presente em filmes anteriores, trazendo um Bond mais confiante e menos atormentado, mas ainda implacável em sua missão. Sua química com Léa Seydoux, que interpreta Madeleine Swann, é convincente, e o relacionamento deles traz uma profundidade emocional que complementa as cenas de ação mais intensas. A relação entre Bond e Swann é bem desenvolvida e dá ao público uma nova dimensão do personagem, mostrando seu desejo de finalmente encontrar paz e amor, mesmo em meio ao caos.
Christoph Waltz interpreta Ernst Stavro Blofeld, um dos vilões mais icônicos da história de James Bond. Embora sua aparição tenha sido um tanto antecipada, Waltz entrega uma performance cativante, com seu carisma característico e uma ameaça sutil. O filme revela uma conexão pessoal entre Blofeld e Bond, o que eleva o conflito entre eles a um nível mais emocional.
No entanto, apesar de sua presença magnética, alguns fãs podem ter sentido que o personagem de Blofeld não foi tão explorado quanto poderia ter sido. Mesmo assim, Waltz consegue trazer uma sensação de ameaça controlada e imprevisível, que adiciona um ar de mistério e perigo ao filme.
As cenas de ação em Spectre são espetaculares e extremamente bem coreografadas. A perseguição de carros pelas ruas de Roma e a luta brutal no trem entre Bond e o capanga Mr. Hinx (interpretado por Dave Bautista) são destaques de tirar o fôlego. A coreografia de luta é crua e física, o que reforça a natureza mais realista de Bond, e as perseguições estão entre as mais emocionantes da franquia.
A cinematografia de Hoyte van Hoytema é um dos grandes triunfos do filme. Cada locação é lindamente capturada, desde os cenários nevados da Áustria até as ruínas desérticas da base de Blofeld. O filme é visualmente arrebatador, com uma atenção meticulosa aos detalhes e uma paleta de cores que vai do sombrio ao deslumbrante, criando uma atmosfera rica e envolvente.
A trilha sonora de Thomas Newman, que já havia colaborado com Sam Mendes em Skyfall, continua a adicionar uma camada extra de tensão e emoção ao filme. As composições complementam perfeitamente as cenas de ação e os momentos mais íntimos, elevando a experiência cinematográfica. A música-tema "Writing’s on the Wall", interpretada por Sam Smith, embora divisiva para alguns, traz uma melancolia que se alinha com o tom mais introspectivo do filme.
O design de produção também é impecável. Os cenários, desde o luxuoso palácio de Roma até a base futurista de Blofeld no deserto, são incrivelmente detalhados e contribuem para a grandiosidade do filme. Há uma sensação de escala em Spectre que remete aos clássicos de Bond, com um toque moderno.
007: Spectre é uma homenagem elegante à tradição de James Bond, ao mesmo tempo em que oferece uma continuação emocionante da jornada pessoal de Bond. Sam Mendes entrega uma direção visualmente deslumbrante, e Daniel Craig oferece uma performance madura e equilibrada, enquanto a trama amarra elementos dos filmes anteriores de maneira satisfatória. Embora o filme não atinja o mesmo nível de profundidade emocional de Skyfall, ele ainda é um espetáculo envolvente, com ação de tirar o fôlego e uma estética visual impecável.